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Igreja moderna: o desafio das crises


A primeira crise que vamos considerar é a crise moral. Uma das causas do enfraquecimento dos valores morais tradicionais é o processo de fragmentação da consciência do homem moderno. Não há um conjunto de valores em que ele se baseie.
A crise moral de nosso tempo se manifesta de forma ambígua. Por um lado, aqueles valores aprendidos dos nossos avós ainda estão lá, porque nunca foram negados explicitamente, e certamente nunca o serão: por outro lado, eles não tem mais forças sobre as pessoas. Por exemplo, uma jovem de nosso tempo é capaz de verbalizar em um programa de auditório que abomina uma “cantada” grosseira ou a abordagem indecorosa do chefe. No entanto, ela se veste e se porta de tal forma que indica por todas as hermenêuticas da linguagem não verbal que deseja ser abordada, conquistada, dominada, vencida.
Ainda se requer das pessoas, na vida prática, no dia a dia, por exemplo, que sejam verdadeiras, que digam a verdade. Ninguém gosta de ser enganado nem que lhe mintam. Mas repare que uma pessoa verdadeira, isto é, que sempre diz a verdade, que nunca mente, não é incentivada, encorajada, elogiada. Não há um consenso prático sobre esse valor. (Amorese 1998, p. 119)
A segunda crise é a crise intelectual. No que diz respeito à igreja, a crise intelctual resulta na desvalorização de se formar pessoas que pensam. Não há interesse nas pessoas pelo estudo bíblico. Elas não querem pensar, querem sentir. Não querem buscar, porque buscar dá trabalho, querem receber. Se me sinto bem numa igreja fico nela.  Se me sinto bem com a pregação, esse “pregador é de Deus”, se não senti nada, então Deus não esta aqui.
O homem pós-moderno tem preguiça de pensar. É por essa razão que estamos perdendo o senso crítico. Aceitamos ideologias, filosofias e novos conceitos sem fazer a menor análise. Sem ao menos parar e pensar. É por essa razão que os cursos nas áreas de ciências humanas nas faculdades estão sendo cada vez menos procurados. É por causa disso que os alunos das escolas públicas e privadas preferem apenas “passar um olho” numa apostila bem condensada preferêncialmente, do que estudar um livro. É mais fácil decorar o questionário do que realmente aprender.
Crise de caráter. Onde há crise moral certamente também haverá uma crise de caráter. A moralidade humana é a base de um bom caráter. Talvez este seja o maior desafio da igreja na pós-modernidade: levar as pessoas a serem transformadas pelo poder de Deus no seu caráter. A igreja é um instrumento de Deus para transformar pessoas egoístas, avarentas, amantes de si mesma em autênticos adoradores do Deus vivo. Quanto a este assunto há ainda um problema que criamos. Rubens Amorese (ano 1998, p. 125) relata muito bem:
A consequência imediata para a igreja se dá via cavalo de tróia. Trazemos o inimigo para dentro de casa. Para adaptar nossa mensagem, nosso discurso interno, nossa liturgia, nossa celebração, enfim, a essa nova realidade, criamos um cristo que salva mas não transforma; que tem poder, mas não convence. Que convence , mas não converte. Anunciamos um evangelho que propõe, mas não confronta (politicamente correto).
Esta é a infeliz realidade da maioria das igrejas brasileiras. Isto vem acontecendo cada vez com maior freqüência porque a igreja vem perdendo a unção. Raramente se ouve dos púlpitos mensagens condenando o pecado,  falando de arrependimento e da necessidade de confissão. Falta como já foi dito anteriormente a “voz profética”. As mensagens que descem dos púlpitos já não estão mais tão ungidas, porque os discursos estão carregados de teor psicológicos em vez de serem ungidas pelo Espírito Santo.
Crise da graça e cultura de mercado. A cultura da graça nos diz que recebemos o que não merecíamos. Por isso, damos graça. Nosso coração se enche de gratidão por havermos recebido algo que absolutamente jamais poderíamos exigir nem reivindicar. A cultura do mercado diz que ainda não recebemos tudo o que merecíamos. Devemos exigir sempre mais pelo que pagamos. Afinal, você merece.
A propaganda vem e lhe ensina que o melhor motivo para comprar aquele produto caro – é você mesmo. Afinal, se você não acha que merece o melhor, quem lhe dará o devido valor? Além disso, como conseqüência, você passa a ser avaliado pelo que tem. Na cultura de mercado, ninguém presta atenção em alguém com o carrinho vazio no supermercado. Mas se o seu carrinho estiver cheio de produtos caros, terá seu momento de glória, mesmo que não passe pelo caixa, e saia de fininho, quando ninguém estiver vendo. Há pessoas que moram mal, comem mal em casa e andam de carrão, porque querem a admiração e o aplauso das pessoas, mesmo que estejam devendo o mundo inteiro na praça. 
As pessoas não te valoriza pelo que você é, mas por aquilo que você tem. Isto significa que os menos favorecidos serão cada vez menos valorizados e cada vez mais esquecidos.
A igreja e os meios de comunicação de massa não têm um relacionamento muito amistoso. O item ‘ibope’ é um fator problematizado. A lógica do mercado sobre a arte, a moral ou a religião produz o “efeito ibope”. Só existem, só tem validade, só são dignas de consideração, se “dão ibope”, ou seja, se há quem as consuma. Por exemplo: uma música bonita para um adolescente, passa a ser aquela que todo mundo está cantando. Não importa se fala de suicídio, se vai mandar todo mundo para o inferno, se manda “segura o tcham” ou se vai “testar o sexo de uma garota com ar de professor”. A atitude mais correta, mais nobre, diante de uma dada situação não é mais aquela recebida da herança cultural, mas o que todo mundo faz (ou a que todo mundo diz que faz; ou melhor, ainda, que a mídia diz que todo mundo faz).
É imprecionante como a mídia manipula a opinião das pessoas, fazendo assim surgir em cena uma nova personagem, uma entidade moderna, chamada “opinião pública”. Personagem criada pela mídia e controlada por ela, a opinião pública, na maioria das vezes não tem opinião nem é pública. Mas, por meio de algumas entrevistas, a mídia é capaz de criar uma impressão de consenso sobre o que desejar. Daí, ter-se tornado no que se convencionou chamar de “quarto poder do estado”. Esse poder tenta, hoje em dia, assumir o controle sobre os demais, elegendo pessoas nos outros três poderes, por meio da manipulação da opinião pública (Amorese 1998, p. 162;164).
Individualmente, o cristão deve desenvolver sua capacidade crítica em relação aos meios de comunicação. Deve se perguntar se poderia ler esta revista, ver este filme, assistir a esta novela etc. em companhia de Jesus? Deve se perguntar se o Espírito Santo o acompanha em sua programação de lazer, qualquer que seja.
A ausência desse senso crítico é o que enfraquece o cristão diante das tentações. Ele precisa fazer um esforço consciênte para viver acima da média. Jamais pode se conformar com a mediocridade e com um estilo de vida que afronta a Deus.
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. e não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1,2).
A Bíblia diz que o reino de Deus é tomado à força (Lc 16.16). Portanto, para não ser engolido pelo invertido sistema de valores do mundo é necessário um grande esforço mental e emocional no sentido de nunca aceitar qualquer coisa passivamente. Antes de qualquer decisão é preciso pensar com cuidado, buscando enxergar com clareza. A melhor maneira de fazer isso é analisar tudo sempre à luz da Palavra de Deus. A Palavra é luz  que ilumina o nosso caminho nas trevas (Sl 119. 115). O cristão que quer viver para o agrado de Deus precisa guardar essa palavra em seu coração, ter a Bíblia como seu manual de vida e prática, ou ele será engolido pelo sistema que conspira contra Deus e seu povo.

SERRA, DEZEMBRO DE 2009

ISMAEL.

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